quinta-feira, abril 13, 2006

A Razão no Medo

Até se poderia dizer que são coisas independentes e difíceis de interligar, mas proponho que se trata de dois conceitos difíceis de dissociar quando compartilham a mesma situação.


Na verdade a Razão e o Medo operam num ambiente de cooperação mútua com o carisma de uma bola de neve e nem todas estas cooperações resultam em beneficios para a criatura que as vive.

Podemos adoptar uma situação para exemplo: Uma pessoa caminha em plena madrugada, por alguma artéria da cidade. "Não se vê vivalma"! (e esta entoação é mesmo dramática, logo aumenta a probabilidade de sentir medo.)

São possíveis sentimentos contraditórios: ou medo - pois se aparece alguém é possível que se mova por intuitos agressivos - e não há mais ninguém que nos possa valer em tal caso; ou conforto - pois como não se vê ninguém, não há ninguém que possa provocar-nos mal. Caso surja alguém, logo se verá!

Agora as questões inquientantes:
a. Porque é que é mais fácil assumir que a pessoa que poderá aparecer seja a que tem intuitos agressivos em vez da outra pessoa que nos poderia valer? Existe algum estudo ou experiência de estatística que o testemunhem?

b. Qual é a vantagem real desta atitude pessimista? Será que nos permite uma melhor preparação para qualquer eventualidade má?

c. Que preparação é essa? A de nos borrarmos com o medo assim que aparece uma ou duas pessoas que nos perguntam as horas às 3:32 da manhã, no meio de uma avenida enorme ou num beco?

Isto parece pouco racional, mas é a própria razão que nos leva a utilizar algum pessimismo nesta situação, tal como em virtualmente todas as outras situações da nossa vivência.
A diferença reside na percepção do nível de controlo de risco que temos em muitas dessas outras situações quotidianas.

Ali é superior, enquanto que nas situações menos habituais, a razão pede (como sempre) à experiência uma lista completa de factos históricos sobre aquele tipo de situação. Não havendo grandes dados (especialmente com resultados fidedignos), a razão pouco ou nada pode fazer para tranquilizar "as hostes" e entra em apatia.

Então, como em tudo na vida, quando umas entidades não trabalham, as outras têm que assumir as lides.

Azar dos azares: a emotividade entra em jogo e praticamente sem suporte da razão (que, por esta altura, já está na unidade de cuidados intensivos em respiração artificial).

A partir deste momento, o desequilíbrio entra em jogo e com os árbitros a favorecer claramente a emotividade.

Escusado será dizer que a partir daqui, a fisiologia da pessoa "infectada" entra num estado de grande descontrolo, produzem-se substâncias "proibidas" em excesso como, por exemplo, a adrenalina.
Os efeitos secundários podem ir de um ruborescimento, contracção de músculos, dilatação das pupilas até tremores, afonia e incontinência momentânea.

Como ainda se diz numa emissão de rádio portuguesa: "Já agora, valia a pena PENSAR nisto": é útil deixar-nos controlar pelo medo?